Eram duas da manhã, acendeu um
cigarro.
Já estava cansada de rolar pela
cama e simplesmente não queria mais ficar deitada - foda-se sono – já que ele
não queria mais vir. Agora ela que não queria mais dormir.
Foi para a geladeira e pegou água
gelada para refrescar-se do calor infernal que fazia. Encostou-se na pia e
pôs-se a tomar lentamente aquele líquido transparente alternando com as
baforadas do Malboro vermelho.
Madrugada silenciosa. Pode
escutar da cozinha o cachorro da vizinha latindo e a torneira da pia pingando
água no banheiro da sua casa – tinha que arrumar aquilo logo.
Dentro de si o som era alto. O
som dos seus pensamentos desordenados e clamadores de uma ordem naquela bagunça
toda. Por isso travesseiro e colchão não fazerem o seu efeito de soníferos.
Mas ela não podia fazer muito.
Estava irritadíssima. Inquieta também! Simplesmente não conseguia conceber a ideia
de alguém que disse a pouco tempo atrás que a amava, que ela lhe ensinada o que
era o amor e depois conseguir olhar em seus olhos e dizer que precisava ir
embora. Que tudo acabou.
ACABOU!
Como poder ter acabado? Como
sentimentos acabam assim?
Não podia ainda entender. Só
compreendia que estava ali, sozinha. Sozinha e acordada em uma madrugada quente
bebendo água e fumando e tentando ainda ordenar pensamentos escandalosos e gritantes
dentro de si.
Teria algo na geladeira para
comer? Tinha fome! Fome e vontade de chorar. Como não havia mais lágrimas
esperava ao menos que comida teria para saciar uma de suas vontades. Sobrara
frango frito do jantar frustrado da tentativa de se animar com seus amigos. É!
Ainda era muito cedo para tentar se animar. Precisava ficar sozinha ainda.
Amigos só mais tarde.
O cigarro acabava. O calor não.
Agora ainda mais odiava o verão. Seria mais difícil para tentar dormir, droga!
Seguiu para a sala, abriu a
janela e deixou a luz da lua entrar. Ligou seu rádio e procurou uma emissora
qualquer da madrugada solitária.
Cacete! Só músicas de fossa! O mundo
quer que morra de tristeza hoje, só pode!
Se jogou no sofá e deixou estar.
A madrugada que passasse à sua maneira. A solidão que fosse sua companheira e
ajudasse a organizar seus pensamentos do início.
Ela viu o sol nascer! Foi
bonito! Os olhos vermelhos confundiram-se com o vermelho do grande astro. É! Ela
continuaria! Ela não acabaria!
Priscila
Imagem retirada da internet