quebrou
a garrafa do meu vinho favorito da estante,
rasgou
as fotos em que eu estava com meus amigos
e
meu short jeans.
“Você
não pode usar roupas curtas e deve trocar seu guarda roupa, só tem preto
aqui!”.
Atirou
ao chão meus CDs de rock
e
teve coragem de riscar o vinil do “Wish you were here” do Pink Floyd.
Rasgou
meus livros e meus poemas,
meu
tesouro particular.
A maquiagem
do rosto mandou tirar
-
parecia puta -
a jaqueta
de couro preta não devia usar mais.
A
musicalidade e a poesia não eram nada.
Use
saias longas!
Clareie
seu guarda roupa!
Não
fale palavrão!
Melhor,
não fale!
Obedeça!
Não
cante!
Não
saia!
Não
sorria tanto!
Lave!
Passe!
Cozinhe!
Transe!
– Seja puta apenas quando o teu futuro marido mandar e só para ele.
E
após o surto dele e a lista de imperativos,
eu
peguei minha dignidade,
minhas
coisas do chão,
e
sai pela porta da vida dele para nunca mais voltar.
Viveria
como sempre quis.
Hoje
ele insiste em estar perto.
Diz
que errou, falou demais!
Pede
perdão.
Liga,
manda
mensagens,
faz
cenas de teatro,
chora.
Mas
eu sou puta, lembra?
Passei
batom vermelho,
esmalte
preto,
bebo
vinho e ouço rock.
Deixa
eu ser puta aqui sozinha.
Priscila Garcia
PS: Metáforas são criadas para representar além do que o escritor deseja dizer. "Jogar fora" é uma delas, mas infelizmente o termo "puta" não aqui é metáfora. Vale lembrar que as palavras usadas pelo escritor refletem a sua visão do mundo; pode ser algo que aconteceu com o outro, um fato que ele viu, ou mesmo que ele viveu.
Imagem retirada da internet