terça-feira, 26 de julho de 2016

Jogou fora meu batom vermelho e o esmalte preto,


quebrou a garrafa do meu vinho favorito da estante,
rasgou as fotos em que eu estava com meus amigos
e meu short jeans.
“Você não pode usar roupas curtas e deve trocar seu guarda roupa, só tem preto aqui!”.

Atirou ao chão meus CDs de rock
e teve coragem de riscar o vinil do “Wish you were here” do Pink Floyd.

Rasgou meus livros e meus poemas,
meu tesouro particular.

A maquiagem do rosto mandou tirar
- parecia puta -
a jaqueta de couro preta não devia usar mais.
A musicalidade e a poesia não eram nada.

Use saias longas!
Clareie seu guarda roupa!
Não fale palavrão!
Melhor, não fale!
Obedeça!
Não cante!
Não saia!
Não sorria tanto!
Lave!
Passe!
Cozinhe!
Transe! – Seja puta apenas quando o teu futuro marido mandar e só para ele.

E após o surto dele e a lista de imperativos,
eu peguei minha dignidade,
minhas coisas do chão,
e sai pela porta da vida dele para nunca mais voltar.
Viveria como sempre quis.

Hoje ele insiste em estar perto.
Diz que errou, falou demais!
Pede perdão.
Liga,
manda mensagens,
faz cenas de teatro,         
chora.

Mas eu sou puta, lembra?
Passei batom vermelho,
esmalte preto,
bebo vinho e ouço rock.

Deixa eu ser puta aqui sozinha. 

Priscila Garcia

PS: Metáforas são criadas para representar além do que o escritor deseja dizer. "Jogar fora" é uma delas, mas infelizmente o termo "puta" não aqui é metáfora. Vale lembrar que as palavras usadas pelo escritor refletem a sua visão do mundo; pode ser algo que aconteceu com o outro, um fato que ele viu, ou mesmo que ele viveu. 

Imagem retirada da internet


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